GESTORES DE ÓRGÃOS CULTURAIS: O QUE QUEREMOS?
Foto: Acervo Mestre Osvaldo. Lençóis. Chapada Diamantina. Bahia
OPINIÃO
Mesmo sem conhecer de perto, ouvi as gestoras recém exoneradas da FUNCEB e IPAC falando sobre cultura e sobre a atuação dos órgãos. Pareceram muito competentes, sensatas, aptas.
Falaram sobre políticas públicas culturais; que Cultura não é evento nem entretenimento; que cultura não pode seguir a lógica econômica. Falaram sobre o conceito ampliado de Cultura; sobre a complexidade das relações culturais no estado.
Pareciam saber muito bem o que estavam fazendo ali.
O nome ventilado pra assumir a FUNCEB agora, também parece ser de uma pessoa preparada, experiente, com trajetória nas políticas culturais do estado. Não conheço, mas o currículo é ótimo.
A pena é a descontinuidade…
Quebra de processos.
Instabilidade.
Nada se conclui.
Retrabalho.
Mas que bom que são todas pessoas esclarecidas.
Depois de tanta distopia de extrema-direita, existe gente que pensa mesmo na Cultura assumindo os órgãos públicos culturais.
Já ouvi gente boa dizer que seria um sonho certa pessoa assumir a Secretaria de Cultura. Pessoa que sabe fazer projeto pra edital, mas sem qualquer conhecimento ou experiência com política pública cultural. Menos ainda sobre como os Sistemas Culturais funcionam nos diversos municípios. Como poderia gerir uma Secretaria cuja função é planejar, sugerir e implantar as políticas estaduais para a cultura?
Vi gestor do IPAC literalmente DESMONTAR o Museu / Sítio Histórico MAM-BA, dizendo que órgão de patrimônio não tem que manter museu. A solução é desmonte? Quem seria responsável pelos museus então?
Vi gestor da FUNCEB dizer que relatórios e conhecimento teórico “não servem pra nada.” Então como saberia o que fazer ali?
Como gerir a FUNCEB sem saber como promover e viabilizar os segmentos da arte pra fortalecer a cultura na Bahia, sem saber sequer COM QUE CONCEITO DE CULTURA está trabalhando? Sem conhecer as relações entre os Sistemas de Cultura?
Por décadas observei de dentro e de fora a Cultura Estadual (e algumas municipais). Já vi passar muita gente muito qualificada. E sem nenhuma qualificação também.
Não basta ter trajetória na área cultural (coisa aleatória) pra ocupar um cargo público da Cultura.
É preciso que a pessoa entenda quais as funções do órgão, as funções do cargo, e seu papel no órgão.
Por exemplo, pra dirigir um museu, é preciso estar atualizado sobre gestão e dinâmicas museológicas; saber sobre o histórico do museu; o papel da instituição na sociedade; a que sistemas o museu está vinculado. Saber o que é museu e pra que serve.
Mesmo que cargos públicos sejam negociações políticas (triste), nós, agentes culturais, ainda podemos fiscalizar e pressionar pra que as indicações sejam de pessoas qualificadas.
Mas pra isso, a gente, nós que criticamos, precisamos saber do que estamos falando e o que exatamente estamos querendo.
Reflexões necessária sobre a gestão de órgão públicos responsáveis pela cultura local.